TEAR DOWN THE WALL - por Silvio Boppré ~ Cabana Cult

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Dia primeiro de abril, conhecido também como dia da mentira, foi um domingo de grandes verdades. Roger Waters – baixista da lendária banda inglesa Pink Floyd – deu uma nova dimensão à sua obra prima The Wall. Concebida há mais de 30 anos e inspirada nos traumas de infância do autor, é uma ópera rock com criticas ferozes ao sistema político e econômico que destrói vidas.

Um palco gigantesco com um muro de 11 metros de altura e mais de 130 metros de comprimento abrigam os personagens criados pelo senhor de quase 70 anos, que ainda com muita disposição passa sua mensagem de forma intensa e única!!! São duas horas de imagens impactantes que parecem saltar do telão!

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O muro é o maior telão já visto em um show de rock. Além das animações feitas por Gerard Scarfe para o filme rodado em 1982, imagens de guerra, fome e desigualdade social são mostradas ao público. A tecnologia de projeção é perfeita. E o som quadrifônico deixa o espectador em transe durante todo o show. Para isso haviam seis torres com caixas de som ao redor do Morumbi, fora todo o sistema de palco. Sons de avião, helicóptero, metralhadoras, da marcha dos martelos ficaram incrivelmente reais.

O show foi uma reprodução fiel ao álbum conceitual que exprime sentimentos tristes e pesados. Imagino como deve ter sido difícil para os demais integrantes da banda entrarem na vibbe que Waters estava vivendo. Colocar tanta energia num álbum sobre temas negativos deve trazer lembranças para uma vida.

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A guerra diária contra ao terrorismo, fome e desigualdades promovidas pelo capitalismo; são a fonte de inspiração para essa nova versão do show The Wall. “Há certas culturas que querem nos vender uma noção de vida que não corresponde ao que é a vida de verdade. O muro da ignorância é provavelmente a força mais potente e negativa que existe” Disse Roger em uma entrevista coletiva. O músico foi muito criticado pela comunidade Israelita brasileira ao defender a causa palestina. “Acabem com a guerra, tragam os filhos de volta para seus pais, tragam os pais de volta para verem seus filhos crescerem!” Bring the Boys Back Home foi emocionante, até hoje ainda ecoa em minha cabeça a mensagem que vi e ouvi.

A critica ao capitalismo é um dos pontos fortes do show. Aviões de guerra lançavam no lugar de bombas, os símbolos capitalistas mais conhecidos como Shell, Mercedes, Coca-Cola... Mostrando como somos destruídos pela ganância e mesquinhez.

Antes de tocar Mother, Roger faz uma bonita homenagem a Jean Charles de Menezes, que foi confundido com terrorista e morto numa estação de trem em Londres. Afirmou que nunca irão apontar quem foi o responsável por tamanha covardia. Jean foi morto de forma cruel e sem chance de se defender.

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Em Mother o cantor pergunta a sua mãe se pode confiar no governo. A resposta é reproduzida no telão “NEM FUDENDO”. Assim como outras frases que faziam o público vibrar e se emocionar.

Difícil dizer o que foi esse show. Roger Waters foi além do rock e do show business. A tecnologia foi uma grande aliada para que essa obra criada há 3 décadas pudesse levar ao fã toda sua totalidade. Show único. Duvido haver algo igual em termos de apresentação e mensagem social. O coro final TEAR DOWN THE WALL (derrubem o muro) é um convite para que nós ponhamos abaixo tudo àquilo que nos divide dos nossos semelhantes.

Confesso que The Wall não era meu álbum preferido da banda. Gosto muito de outros álbuns, principalmente The Dark Side of the Moon. Mas assistir ao vivo e de forma tão intensa fez com que eu mudasse de ideia. Esse show não é apenas para ver e ouvir, mas para mudar sua ideia sobre o sistema em que vivemos.

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Agradeço a minha esposa Carolina, aos compadres Tarcisio e Celice, e aos amigos Décio e Adriana que embarcaram comigo nessa jornada ao Morumbi. Assistir um espetáculo dessa magnitude ao lado de pessoas queridas e amigas é muito melhor!