24 de janeiro de 2013

Um Crucifixo Dourado - por Pedro Lopes de Oliveira


Um crucifixo sempre me fez pensar. 
Como uma cruz (objeto símbolo das máximas punições romanas, fazendo saber o que esperava aqueles que subvertessem a ordem ou difundisse ordem contrária) pode ser a recordação maior de um homem que é um símbolo de amor, respeito e mansidão (“porque Jesus era manso”, lembrou sabiamente Seo Nico, meu sogro)?
Lembremos que os primeiros seguidores das “novas” de Jesus, os cristãos primitivos, não tinham o crucifixo como símbolo de referência a Jesus. O símbolo era o desenho de um peixe. Porque Jesus e os seus se auto-entendiam pescadores de homens (e de almas), mas também porque o peixe era o alimento mais popular da região, à época.
Mas, um crucifixo dourado me proporciona uma grande profusão de questionamentos. Sobre o signo e seus significados.
Para mim, não parece existir objeto mais contrastante à filosofia e às lições de Jesus do que um crucifixo dourado. O portador, logicamente cristão, refletiu um dia sobre o antagonismo entre os valores materiais (principalmente os objetos dourados) e o que professou Jesus diante deles? 
O ouro é para mim o maior representante das coisas materiais. Significa-me o acúmulo, o luxo, a concentração de renda. E tudo isso me remete à individualidade, ao egoísmo. Tudo muito contrastante ao que o mestre professava. Que era o comunitário, o fraterno, às coisas do espírito (amor ao próximo, perdão, condescendência).
O crucifixo, de madeira ou de outros materiais, nos faz remete à triste lembrança do momento da crucificação. Tendem a nos lembrar (e impor) a culpa hereditária daqueles homens que maltrataram e crucificaram o mestre. Ou seja, este símbolo nos remete a Jesus pelos canais da culpa, da dor, do mal que lhe impuseram (alguns até acham que “todos nós” o impusemos). Quando, entendo, que as maiores lições que Jesus nos deu foi a do perdão e do amor incondicional. Para mim, totalmente opostas à simbologia do crucifixo. 
Eu, por fim, diante de um crucifixo (mesmo um dourado) exercito a condescendência, compreensão e respeito ao próximo. Mas, não há como eu não observar uma pessoa com um crucifixo dourado no pescoço sem, de novo, refletir sobre a compreensão daquela pessoa sobre aquele o símbolo, seu significado e pertinência.
Sabe como é: a cabeça não desliga. O signo e seus significados, etc e tal...
Cruz credo! Acabei de perceber que tenho que repensar Ozzy Osbourne.
Fim da conversa no bate-papo.


Por Pedro Lopes de Oliveira
Terapeuta, Historiador e Publicitário
Jaraguá do Sul – SC
plo@netuno.com.br




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