O peso e a leveza - Por Tiago Carpes do Nascimento
No livro “a insustentável leveza do ser” o escritor tcheco Milan Kundera nos leva a refletir sobre a ambígua teoria dos contrários de Parmênides, que diz ser o mundo organizado em duplas de contrários (frio-quente, claro-escuro, grosso-fino…) baseadas no conflito positivo x negativo, Kundera nos incute a dúvida: o que será negativo em se tratando de leveza e peso? Os filósofos antigos diziam que o leve era positivo, será que estavam certos?
O questionamento me ocorreu recentemente, logo após ter realizado a contento uma sucessão de hercúleas tarefas: terminei meu artigo de conclusão da pós-graduação; coloquei em dia todas as notas e diários de classe das turmas que leciono (primeira vez no ano); defini metas básicas para 2013; terminei minha terceira mudança no ano; achei tempo pra brincar com minha filha; dei reinício a um velho curso por correspondência que estava pendente...
E após tudo isso, eu vi que não estava tão leve quanto deveria. Aparentemente não pesavam mais sobre meus ombros quaisquer obesas responsabilidades, paquidérmicas obrigações, ainda assim não me sentia muito positivo. Ao contrário, ficou tudo meio vazio, meio que faltando alguma coisa, meio negativo sabe? Ter abandonado o peso de tomar as decisões, de fazer as escolhas, de assumir os compromissos inadiáveis, de levar uma pesadona e pachorrenta vida corrida, a ausência dessa carga não foi bem o poço de leveza que eu esperava. Estariam errados os arcaicos gregos?
Dá o que pensar, hein?!
2 comentários:
Tiago, penso que isto faz parte da nossa evolução. Se vc se sentisse "leve", acabaria relaxando e voltando a fazer (ou não fazer) tudo como antes!
O interessante é isto, para que possamos crescer temos que estar sempre correndo contra o tempo e explorando nossos limites, e o que nos fará ir pra frente será sempre esta sensação de insatisfação.
É meio frustrante? É! Mas faz parte e quando estivermos mais velhos veremos que tudo isto valeu à pena para chegarmos aonde quisermos! (mas talvez ainda acharemos que foi pouco, é a vida!)
Bjus
Pois é Patricia. Olhando a vida por esse angulo que você mostra faz todo o sentido. Creio que seja a velha resposta à pergunta: "o que vc quer da vida?" R: SER FELIZ.
Afinal o que é ser feliz? Não seria se sentir pleno, satisfeito, realizado, completo? Mas e depois disso não viria uma sensação de enfastiamento, de tédio, de marasmo?
Daí achar que de fato somos criados para a incompletude. Criados para a leveza eterna...
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