4 de junho de 2011

O Canto do Grillo - Alegria, alegria!

Alegria, alegria!

“Sei sou um negro de cor, meu irmão de minha cor. O que te peço é luta sim, Luta mais...que a luta está no fim. Cada negro que for, mais um negro virá, para lutar com sangue ou não, com uma canção também se luta irmão...ouve minha voz oiééé...luta por nós”. 

Essa letra é uma das mais bonitas mensagens antirracismo já feitas no Brasil. E Wilson Simonal de Castro cantava magistralmente “Tributo a Martin Luther King” composta por ele e Ronaldo Bôscoli.  Em tempos de Roberto Carlos e jovem guarda Simonal foi o rei negro do Brasil. Amado por todos lotava ginásios, auditórios, estádios e qualquer outro local que ele decidisse soltar o vozeirão. “Alegria, alegria” dizia Wilson Simonal nos shows e apresentações. O jovem que largou o exército para ser “crooner” da banda Drinks, ganhou rapidamente o Brasil, venceu o preconceito racial e de filho de empregada passou a ser o filho do Brasil. Todos amavam Simonal. Mas o que aconteceu então para ele cair no ostracismo por mais de 20 anos?


Simonal acabou sendo vítima não do preconcieito, mas do preconceito da classe musical. No episódio do sequestro de seu contador, Simonal mandou uns conhecidos conseguir alguém pra dar uma surra em seu contador que suspeitavam estar desviando dinheiro do músico.  Acontece que um dos homens chamados para dar a “lição” no contador  era agente do  DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social), órgão de repressão e tortura da ditadura militar na época. O contador acabou fazendo a “confissão” nas dependências do DOPS. Simonal acabou sendo indiciado por sequestro e extorsão e em seu julgamento foi apontado pelo agente do DOPS como informante do regime militar no meio musical. Veio aí a história de que Simonal era dedo duro da ditadura.

"Em sua argumentação final, o ilustre meritíssimo alega que não tem como julgar os agentes do DOPS, já que estávamos vivendo um estado de exceção e, por isso, ele não tinha competência para julgar atos que poderiam ser de segurança nacional, mas Wilson Simonal, que era civil, não tinha esse tipo de “cobertura”, portanto pena de 5 anos e 4 meses para ele(...) Se em 1971 fosse provado que ele era um colaborador, ele não seria julgado por isso, seria condecorado,"
Claudio Manoel, produtor e diretor do documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei"

Essa história nunca vai ser passada a limpo. Nunca apareceu nem sequer uma pessoa vítima do “dedo duro” Simonal. Mas isso foi um prato cheio para os jornais e movimentos contrários a ditadura, dos quais faziam parte os intelectuais e a classe artística. Assim começou o boicote do meio artístico ao cantor.
O resto da história pode ser visto no espetacular documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei". 

Vale a pena ver e rever. A história desse monstro da música PRA DANÇAR BRASILEIRA.


Vamos ouvir Simonal e para pelo menos tentar redimir o que foi feito contra esse maestro das massas. 

Carlos Grillo

1 comentários:

Grande Grillo...
Mais um grande post, está se tornando uma coluna de peso o "O Canto do Grillo"... sempre com muita informação valiosa, conteúdos de renome e muuuita cultura...
Dalhe Simonal, vamos curtir e valorizar agora, nunca é tarde... ehehehe
Abração...

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