Perdendo a hora - Andréia Kruger
Ocorre-me que preciso levantar ás 06:00 horas, um suspiro
preso na garganta, por instantes esqueço de respirar. Uma mistura de suor frio
e um arrepio na espinha se forma como uma corrente elétrica. Recupero-me da
síncope causado pelo susto.
O sangue volta a circular, tento me livrar dos lençóis e do
cobertor. Neste momento somos a pessoa mais desajeitada do mundo, e a cada
instante, a probabilidade de esquecer alguma coisa em casa aumenta.
Apanho qualquer blusa do roupeiro e vou tropicando até a
lavanderia com o coração no dedo mindinho do pé esquerdo, o qual acaba de bater
em algum móvel, arranco meu jeans favorito do varal, e apesar de estar um
pouquinho úmido no cós, visto-a mesmo assim.
A esta altura do campeonato, sem muito ligar para ver se o visual
estava combinando, calço meu tênis All Star. No banheiro jogo uma água na cara,
amarro meu cabelo rebelde num coque sem ao menos pentear, gargarejo com
Cepacol, enxáguo a boca, depois
limpo a boca com as mãos. Sem ao menos
escovar os dentes, arranco porta a fora, e de relance vejo a minha mãe me olhando
perplexa.
Volto à atenção antes de fechar a porta atrás de mim, no
segundo seguinte me pergunta:
_ Aonde você vai?
_ Trabalhar, oras. – Respondo franzindo o cenho.
Com ar zombeteiro, ela ajusta seu roupão ao redor da
cintura, e impaciente me despeço.
Pela janela minha mãe grita:
_ Talvez você consiga pegar o ônibus das 10:00 horas, justo
porque hoje é domingo!
Paro no portão encostando a minha cabeça no alumínio. Não
sei se fico feliz ou com raiva de mim mesma.
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