Abrindo oficialmente a coluna, vamos falar hoje sobre uma banda que teve uma particularidade que nos permite tirá-la da ordem cronológica, devido à sua carreira meteórica, literalmente, mas ... no pior sentido do vocábulo. Surgiu, brilhou e desapareceu. Não há registro da duração da banda. Mas creio que não chegou à 60 minutos. Isso mesmo! Não durou uma hora.
Ladies and gentlemen, let me introduce "The Black Stones".
Mas ela tem história. Antes de subir ao palco pela primeira vez, muita coisa aconteceu. Os personagens principais da história, além de mim, Cesar Silva, Adauri Schmidt, Vitório Lazzaris (Tom), Nono Klitzke e Pradeca.
Acho que tínhamos uns 14, 15 anos quando resolvemos montar uma banda e é lógico, precisava de dindin. Sugeri o seguinte. Perto de onde eu morava, tinha uma fábrica de, entre outras coisas, grampos de roupa. Era a Tribrasil. E a coisa funcionava assim. Quem tava afim de levantar um troco ia lá e pegava um monte de grampos para montar, ou seja: enfiar aqueles dois pauzinhos numa molinha. Isso era uma das tarefas. Outros pegavam uma máquina, levavam pra casa com um monte de arames que iriam virar a tal molinha. Em casa, colocavam o arame na máquina e com movimento de umas alavancas, faziam aquela voltinha que tem nas molas. Já outras pessoas, pegavam outro tipo de máquina e colocavam a mola, já com a voltinha, e com duas alavancas faziam as pontas se fecharem e a mola tava pronta. As pessoas ganhavam por produção, medida por peso.
Depois de muito chorar, conseguimos uma máquina que estava destinada pra uma senhora bem mais necessitada do que nós. Olha só a maldade. Levamos a máquina numa carrocinha pra minha casa(estamos na decada de 60 minha gente, e era carrocinha mesmo). Primeiro dia todo mundo lá, clap clap clap clap e dá-lhe fabricar molinhas. Segundo dia, um já não veio. Depois muitos já não apareceram e a máquina lá. Tava numa parte da casa que tinha goteiras . . . os pingos caindo em cima da máquina . . . em cima dos grampos e nós nem aí. Porra. Só que o chefe lá da fábrica me cobrava a máquina. Já tinha se passado vários meses. Até que não deu mais. A gente se reuniu e fomos lá devolver a bagaça. A máquina e os grampos já enferrujados., o Sr Ralf na porta da fábrica, pernas abertas, braços cruzados e nós alí, de cabeça baixa. O pior é que o cara não falava nada. "Pois é Seu Ralf", alguém gaguejou. "Tamos aí devolvendo a máquina, teve uns probleminhas e coisa e tal. Vamos fazer o seguinte: A gente devolve a máqujina e o senhor não precisa pagar pelas molas prontas. Só dexa a gente ir embora, ok?" Cara! As molas estavam tudo enferrujadas, a máquina o resto dos arames tudo perdido.
Mas tá, passou. Sem grana, alugamos instrumentos dos “Os Notáveis” uma outra banda daqui. Pegamos a bateria do Itajara Clube de Tênis também emprestada e levamos tudo pra casa do Adauri, que era alí no centro, onde é o show room do Emmendoeerfer. Mas os problemas não paravam aí. Só o Cezar e o Adauri sabiam tocar, ambos guitarra. Tom tinha um piston mas não sabia uma única música e também nem sei onde colocar o som de piston numa música de rock, mas tá. O Nono era pra ser o baixista e também era um zero. Eu era pra ser o baterista e embora acompanhasse a banda não sabia fazer uns riffs, coisa que o Pradeca sabia fazer, mas, em contrapartida, se perdia na música, fugindo do ritmo e levando a banda a tocar em ritmo de galope, mas fazer o que?
Ensaios e mais ensaios e fechamos para tocar no Cristo Rei, the best point naquela época. Era um bingo dançante. Kipariu. Era isso mesmo. Coisa de colono meu, bingo dançante. Chegou a noite fatídica do tal bingo. Casa cheia, fomos de trole puxado por dois cavalos(não existia taxi naquela época) a banda e os instrumentos. É óbvio que pinduramos a corrida. Não só a corrida como também o aluguel dos instrumentos e aparelhagem. Tudo ia ser pago com a grana que a banda ia tirar com o show. Daí começou o que foi o principio do fim. Cadê o Pradeca, o baterista? Ficamos sabendo que o pai dele tinha colocado ele de castigo e não podia sair aquela noite. Si fude meu. Como assim? O cara com aquela idade tava de castigo? Queriam que eu tocasse, mas só queriam. Imagine, não tinha ensaiado, nem sequer aprendido à tocar direito. Sem chance. Mandaram chamar o baterista de outra banda, Os Beatniks, o Beto. Combinaram que o baixo iria ficar literalmente baixo pois o Nono não tocava nenhuma das músicas e o Tom só podia assoprar o piston quando tivesse certeza de que se encaixaria na música, e o Beto tinha que se virar pra acompanhar o resto da banda.
Abrem-se as cortinas e a banda começa. Tudo atravessado, todos fora do compasso Vitório entrava na hora errada, o Beto mal conseguia acompanhar a banda. Só faltava o Nono ser descoberto, mas não demorou muito. Tinha uma música do Roberto Carlos em que a banda toda tinha que parar os instrumentos por alguns segundos e depois entrar a bateria e o resto da banda com tudo. “ Vocêêê . . . . . . . . . .pact pact bum! não serve pra mim....” E a banda parou. Só o Nono com o baixo não e ficou lá naquele silêncio” tum tum dum tumdum pan” .... Risos. O Padre Elemar sobe no palco, manda a banda parar de tocar e liga uma radiola(não existia stéreo system né meu, era radiola mesmo, som mecânico).
E o pagamento? O padre deu um cachorro quente e um guaraná pra cada um e foi só. Tamo devendo os aluguéis dos aparelhos e a corrida de trole até hj! Kkkkk. Mas não ficou só por isto. Dia seguinte, sábado, fomos buscar os instrumentos e vimos que o balcão frigorífico das bebidas tava sem tranca. Pegamos os estojos de guitarras e do baixo e forramos de cerveja, uísque, vodca e os garaios e levamos os instrumentos nas mãos. Passamos dois dias bêbados e felizes. Taí pessoas. Essa é a história dos The Black Stones.
Detalhe. Na época nem sabíamos o que queria dizer Black Stones, não tinha internet, cursos de inglês, a informação era rara. Até!
por Carlos Piske.
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